segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Os cães na Publicidade.

Que qualidades possui o cão para que os publicitários o utilizem cada vez mais?

O cão e as marcas

As primeiras utilizações do cão como argumento de venda remontam ao início do século XX. Um dos exemplos mais célebres é, sem dúvida, o do cão uivando à morte diante do gramofone da Pathé-Marconi com o slogan "A voz do Dono".

Esta publicidade baseia-se no quadro do cão Nippor que, após a morte do dono, se manifestava desta forma assim que ouvia a sua voz através do gramofone. Aqui, o que é importante é a fidelidade da raça canina à qual se compara o aparelho apresentado. Se consegue enganar o cão significa que a qualidade é excelente!

A marca "Black and White Whisky" escolheu dois cães escoceses como símbolo lembrando, assim, a sua fidelidade à terra natal.

Quando um cão é utilizado na publicidade automóvel, simboliza o poder e a segurança. Assim, dá-se preferência a animais de tamanho consequente: um Boxer para os pneus Kleber ou um cão mítico de seis patas para os óleos Agip. Os grandes São Bernardos conferem tranquilidade e proteção enquanto que os "rafeiros" são utilizados para dar um toque de humor.

Atualmente, o cão faz parte da família: é o companheiro de brincadeiras das crianças e, também, dos idosos. De fato, é habitual encontrá-lo como elemento decorativo de inúmeros anúncios que utilizam o conceito da família moderna típica. O cão completa a imagem de um conjunto e torna a atmosfera mais relaxada.

Um elemento de marketing

Contrariamente ao gato, mais intimista e introvertido, o cachorro é o animal de exterior, do campo, da liberdade. Se o vemos dentro de casa, suja ou estraga, permitindo, assim, elogiar a ação de alguns produtos domésticos: o produto lava-tudo para soalhos apagará as asneiras do cachorro Labrador enquanto que o novo aspirador removerá os longos pêlos do Tejo.

Num registo totalmente distinto, o cão é, por vezes, sinónimo de elegância. Torna-se então um elemento de ostentação na publicidade da marca Chanel e outros cosméticos, como é o caso do Galgo afegão e do Dálmata.

Em todos estes exemplos, o cachorro, quer se apresente apenas como cão ou como uma transposição de comportamentos humanos, não constitui o alvo dos publicitários. Trata-se, apenas, de um elemento de marketing utilizado, muitas vezes, em simultâneo pelas agências de publicidade que empregam, também e com muita frequência, as mesmas raças de cães, dando origem a modas desastrosas para a raça em causa.

O cão torna-se "consumidor"

Pelo contrário, na publicidade para "petfoods", detêm o papel principal. É ele o consumidor, pelo menos por intermédio do seu dono. A abordagem é diferente consoante as marcas. Para a Royal Canin trata-se de um cão e deve ser respeitado como tal. Como tal, utiliza-se um Pastor Alemão que corre em direção ao seu dono, correndo pelos campos fora ou cachorros em plena descoberta do meio envolvente.

Em caso algum, se recorre ao antropomorfismo. Waltham prefere obter testemunhos dos criadores e Canigou aposta no carácter desportivo e vigoroso do cão. Para Fido, são cães de raças diferentes que "provaram e aprovaram" o produto. Finalmente, Friskies e Frolic recorrem ao humor representando anúncios humorísticos cujos atores, evidentemente, são cães. Essas campanhas publicitárias estendem-se a todas as revistas e, sobretudo, à televisão pois o cão é um animal e como tal indissociável do fator movimento.

Os jornais e a publicidade

Um último setor permanece bastante reservado essencialmente à imprensa especializada em animais: os medicamentos Veterinários. Parte dessa publicidade dirige-se estritamente aos Médicos Veterinários recordando a eficácia do produto e a sua inocuidade. Os anúncios são pouco numerosos comparativamente aos que divulgam produtos de higiene animal, produtos anti-pulgas, os desparasitantes, sem esquecer os acessórios para cães. A sua difusão é muito superior e, por vezes, mesmo com recurso de spots publicitários. Este fenômeno é recente e testemunha a importância crescente do cão na nossa sociedade. Os diferentes tipos de publicidade têm como fator comum a utilização do humor, até mesmo do escárnio, para desdramatizar o aspecto "terapêutico" desses produtos.

Para concluir, o cão tornou-se, com o passar do tempo, um argumento de vendas, quer pelo que representa, quer como "potencial consumidor". Deixando de parte os produtos que lhe são verdadeiramente destinados, o cão serve para vender tudo e mais alguma coisa.

A história do cachorrinho da COFAP

Dificilmente você vai saber o nome da marca de alguma peça do seu carro. Se souber, provavelmente será dos pneus ou da cera que passa na pintura, no máximo. Porém, a boa propaganda é capaz de colocar qualquer coisa na cabeça do consumidor. Por isso uma das campanhas publicitárias mais conhecidas do Brasil trata de um amortecedor para veículos, um produto sem qualquer glamour.

A história dessa propaganda começa na Rússia, quando o casal Kasinsky resolveu deixar sua terra natal e partir para o Brasil. O pai era grande conhecedor de veículos e logo passou a trabalhar nesse ramo. Importava peças e fazia a manutenção daqueles que eram os primeiros carros a circularem em São Paulo, ainda no início do século XX.

A família toda estava envolvida no negócio, incluindo o filho mais novo, Abraham Kasinsky. Ao contrário dos irmãos, que desejam apenas continuar com a oficina do pai, o caçula era mais ambicioso. Para ele, o segredo não era importar as peças e vendê-las, porém fabricá-las no Brasil. A empreitada não seria fácil, no entanto Abraham foi capaz de convencer os irmãos a investirem nesse novo objetivo. Os funcionários da oficina fundada pelo velho Kasinsky abriram então todas as peças importadas e aprenderam como fabricá-las. Sendo assim, no início da dédade de 50 surgia a Companhia Fabricadora de Autopeças, mais conhecida pelo acrônimo Cofap.

As peças da empresa tinham qualidade, mas ainda eram vistas com desconfiança pelos consumidores, acostumados com as importadas. Kasinsky sabia que para conquistar o mercado deveria quebrar esse paradigma. Sua genialidade foi não ir diretamente ao cliente, porém aos mecânicos.

A Cofap fazia intensas campanhas junto a esse público, mostrando que seus produtos eram tão bons quanto os estrangeiros, com a vantagem de terem um preço melhor. Convencidos os mecânicos, ficava fácil convencer o comprador, que em geral ouve o conselho do profissional.

Usando essa tática, a Cofap logo se tornou líder de mercado. Com os negócios estáveis, eles decidiram que era hora de fazer com que o consumidor final também conhecesse sua marca. Contrataram a W/Brasil para a missão. A idéia era fazer algo inovador, uma vez que as propagandas de peças eram sempre trágicas, com imagens dos componentes falhando e carros batendo. Kasinsky não queria nada disso. A W/Brasil então resolveu seguir uma tendência que já era internacional, a de usar animais em propagandas.

Por ser esticadinho como um amortecedor, os produtores do comercial escolheram como garoto propaganda um cão da raça Dachshund. Associaram a confiabilidade canina ao produto com o slogan “o melhor amigo do carro e do dono do carro” e ainda colocaram uma dose de bom humor nos filmes da Cofap. Foi um dos maiores fenômenos da propaganda brasileira, a ponto da raça do cachorro mudar de nome! E assim o consumidor comum, em geral desinteressado por autopeças, acabou conhecendo bem uma marca de amortecedores. É claro, a Cofap cresceu bastante por causa desse sucesso. Tornou-se por muito tempo a maior fabricante de autopeças da América Latina, exportando para quase cem países.

Curiosidades de Sobremesa

1 – O sobrenome correto é Kasinsky, com Y. Dizem que a marca foi mudada para não parecer que a pronúncia dessa letra fosse como no inglês (kasinskai). Outra teoria afirma que Abraham curte numerologia e mudou a marca para ter mais sorte.

2 – A raça Dachshund foi criada para caçar animais que vivem em buracos, tais como texugos e marmotas.

3- O nome do cãozinho que fez as primeiras propagandas da Cofap era Rodolfo Cebolinha.

4 – Abraham Kasinsky vendeu a Cofap em 1997. Com quase 80 anos na época, todos pensaram que ele se aposentaria. Nada mais longe da verdade! O velho Abraham pegou a grana e iniciou uma empreitada ainda maior, a abertura da fábrica de motos que leva como marca seu sobrenome. Kasinsky lutou bravamente e fez a empresa evoluir no mercado nacional, até ser vendida para o Grupo Zongshen (chinês) em meados de 2009. Quando o assunto é moto, difícil lutar contra os asiáticos…

6– A empresa que comprou a Cofap se chama Magneti Marelli.


Confira algumas propagandas:





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