domingo, 19 de setembro de 2010

QUADRINHOS NÃO VENDEM POR QUÊ?


Dados do site de publicidade da Panini Comics indicam que a tiragem média para quadrinhos Marvel em 2004 foi de 20.000 exemplares e, para quadrinhos DC no mesmo ano foi de 15.000, exceção feita a Novos Titãs e Batman, que também foi de 20.000 cada. Um editor conhecido meu, diz que a Panini deve vender cerca de 40% da tiragem, ficando com um encalhe de 60%. Um outro conhecido, dono de comic shop, diz que a Panini vende cerca de 60% da tiragem. Então fico com o meio termo: 50%.

Isto reduz o universo de compradores para cerca de 10.000 pessoas. Isto quer dizer que 0,005882% da população do Brasil é compradora de quadrinhos. Isto que dizer que a cada 17.000 pessoas no Brasil, uma delas compra quadrinhos. Assim, uma cidade de tamanho médio, que tem entre 50.000 a 100.000 habitantes, poderia fazer de 3 a 6 leitores! Surgem, é claro, os casos à parte. Cada edição é lida em média por duas pessoas, o que elevaria o número para 20.000 pessoas, mas não há dados que informem o fato. Caberia uma pesquisa para se saber o número real de leitores de uma mesma revista e/ou título.

Já as outras editoras de quadrinhos de heróis ou similares, trabalham com tiragens de mil exemplares ou quinhentos (Ken Parker). Num editorial recente em Conan, O Bárbaro, da Mythos/Dark Horse, o editor explica que a distribuição nacional foi abolida por queda de vendas, retornando à distribuição por setores. O cimério vive uma fase excepcional nas mãos de Kurt Busiek em sua outra revista (Conan, O Cimério) e nem assim chama tanta atenção dos leitores.

Na cidade em que vivo e compro revistas, por exemplo, há um desespero quando vão chegar alguns títulos, pois já se sabe que não há exemplares para todos os compradores. Séries como Homem-Aranha, Liga da Justiça, X-Men Extra, Marvel Millennium e Superman/Batman, chegam somente três exemplares de cada, quando o público fixo, neste caso, é de cinco compradores, e o potencial deve ser de sete. Sempre pode-se fazer amizade com o dono da banca, mas se o outro comprador estiver no local quando chega a caixa... bem, ele leva. Quando se reclama ao distribuidor, ele diz que não recebe exemplares o suficiente. E como o distribuidor está em uma cidade macro-pólo regional com 180 mil habitantes (em contraste com a minha cidade com apenas 40 mil), sabe-se que sua prioridade é atender a sua cidade.

Em viagem recente a esta cidade, vi que os quadrinhos ficam escondidos e quase todas as bancas tinham a mesma quantidade de revistas, três, significando que não haviam vendido a quantidade que receberam. Algumas séries, conhecidas do grande público como Homem-Aranha, X-Men, Batman e Superman, ficam em posições que impossibilitam que alguém as veja. Não se sabe o porquê real, mas o dono de banca argumenta que é melhor expor Veja, Playboy, que venderão, quando pouco, de 15 a 30 edições, gerando um lucro razoável para a banca, especialmente quando se leva a equação de ocupação de espaço e venda.

O problema está na política adotada para a divulgação. Os editores ainda estão ligados na política do “viu comprou”, que é característica do quadrinho infantil. Mas aí é mais simples explicar. As revistas infantis, com poucas páginas, custam em torno de R$ 2,00, contra os R$ 6,90 da Panini. Revistas como Mônica, Disney e até mesmo Tex, raramente têm continuações, contra o esquema pesado de cronologia das grandes editoras. “Ver e comprar” é uma equação merecedora de atenção quando a editora divulga seu material fora do meio dos quadrinhos. Recentemente, a Panini Comics fez propagandas na tevê por assinatura para Pesadelo Supremo e sua promoção para baralhos nas edições 50 das séries da Marvel, e na tevê aberta quando foi lançada a Coleção Pocket Panini.

Outro fator é que na era da Internet tudo é grátis. Jogos em tempo real tomam tempo dos adolescentes, que não ganham o hábito de ler. Mesmo jogando games de personagens em quadrinhos não há vínculos com o quadrinho real, especialmente por que ele não pagou pelo jogo, e sim simplesmente baixou de “algum lugar”. Soma-se a este fator o pequeno público que tem acesso aos scans, que tem poder aquisitivo para comprar, mas não compra.

Sem um programa de divulgação adequado, que se utilize da estrutura dos blockbusters recentes (Homem-Aranha 2, Batman Begins, X-Men 3 e Superman - O Retorno) para aumentar as vendas de seus títulos, as editoras nacionais vão apenas inviabilizar e reduzir seu público, logo, logo trabalhando em tiragens de 1.000 exemplares ou deixando de publicar em português. O problema não será do leitor, que terá acesso sempre ao material original e poderá ler se quiser e puder ($), mas sim da empresa que perde a possibilidade de conquistar e reter seu público graças à miopia empresarial de que o quê está sendo feito está bom.

Um bom exemplo são as promoções americanas de edições de centavos. Batman teve uma edição de US$ 0,10 e US$ 0,12; Superman, Quarteto Fantástico, Contagem Regressiva para Crise Infinita, Brave New World e Star Wars tiveram preços semelhantes, variando entre centavos e 1 dólar. Estas estratégias funcionam parcialmente nos EUA e conseguem manter o interesse na série por algum tempo. Aqui, no entanto, onde o comprador, em geral, tem menor poder aquisitivo que o comprador médio americano, não há nem sombra de estratégias semelhantes.

Interessante notar que algumas editoras acreditam que podem atender uma segmentação do mercado e vender revistas com acabamento de luxo, papel especial, capa dura ou com orelhas, e preço alto para compensar a baixa tiragem. Isto só irá afugentar o leitor comum, ainda que eu acredite que realmente Sandman, Watchmen, LJA/Vingadores, Marvels e outras, mereçam os acabamentos especiais para atenderem a leitores maduros e dispostos a pagarem mais para estes luxos.

Não quero simplificar a coisa, mas um bom caminho é criar parcerias com escolas secundárias, onde revistas do encalhe seriam doadas ou emprestadas para uma tarde de leitura. Talvez até revistas impressas (e financiadas por propaganda) especificamente para este fim. Pesquisas poderiam acompanhar os leitores em potencial durante um ou dois anos para verificar a taxa de conversação. Medida semelhante deveria ser adotada em lançamento de filmes com heróis vindos dos quadrinhos.

A impressão de uma revista promocional de baixo custo, com páginas de histórias e várias propagandas, que seriam distribuídas em cinemas, locadoras de vídeo, escolas, eventos de fãs e jogadores (RPGs e card-games) poderia gerar algum resultado. Veja bem: não é a solução, mas um caminho para estudar possibilidades e dentro de dez anos ter mais leitores-compradores do que hoje.

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