quarta-feira, 24 de março de 2010

Ninguém sabe viralizar como o Coringa


Quer saber o que é efeito viral? Vá ver Batman - O Cavaleiro das Trevas.

O Coringa faz tudo aquilo que estamos sempre tentando convencer nossos clientes a fazer: ações diferenciadas para integrar todas as mídias.

Por Eco Moliterno

E lá fui eu assistir ao novo filme do Batman. Um pouco desconfiado no início, pois tinha medo de ser apenas mais um episódio do “007 mascarado”. Mas já que todo mundo estava falando tão bem, resolvi arriscar. E não me arrependi nem um pouco, pois não imaginava que fosse ver exemplos tão bons de marketing viral.

Esse filme, aliás, já começou a ser viralizado muito antes do seu lançamento. O ator que fez o vilão apareceu morto misteriosamente em um quarto de hotel. O que fez o “mocinho” agredir a mãe e a irmã durante a turnê de pré-estréia. Ou seja, quem não vai querer ver um filme que perturbou tanto a cabeça dos dois principais protagonistas?

Pra ajudar, algumas ações na internet (pistas de uma caça ao tesouro espalhadas no mundo inteiro, site de uma agência de viagens fictícia) aumentaram ainda mais a curiosidade do público. E para minha surpresa, o próprio enredo é uma verdadeira aula de como fazer um viral de sucesso.

O professor, claro, é o Coringa. Ele faz tudo aquilo que estamos sempre tentando convencer nossos clientes a fazer: ações diferenciadas para integrar todas as mídias. Transmite vídeos caseiros em broadcast pela TV, faz inúmeras intervenções ao vivo por celular, envia malas diretas para explodir carros, transforma a carta de baralho do Joker em um ‘teaser’ para assassinatos e, claro, usa como ninguém o marketing de guerrilha (no caso, literalmente).

Até o conceito do “pull media” ele aproveita: em vez de armar uma emboscada em algum lugar e levar todos os inimigos até lá – como qualquer bom malfeitor faria –, ele prefere invadir a festa onde todos já estão juntos. Ou seja, um “vilão 2.0? explorando a comunicação 360º em nome do mal.

Mas o que mais me impressionou foi a capacidade do Coringa de manipular a opinião pública sem gastar quase nada. Como ele mesmo diz na cena em que queima uma pilha de dinheiro dos mafiosos, “eu só preciso de coisas baratas: gasolina e pólvora”.

Essa é uma lição que nosso mercado tem que aprender: não é preciso gastar milhões de reais para atingir milhões de pessoas. Os argentinos, por exemplo, durante a crise econômica, tiveram que criar campanhas com pouquíssima verba – e viraram referência de linguagem no mundo inteiro. Enquanto isso, nossa criatividade continua caindo junto com o risco-país.

O Coringa até inventou uma nova maneira de usar a mecânica do “clique e envie para alguém”: criou uma idéia simples, barata e que também funciona como pesquisa de opinião – no caso, para quem já viu o filme, estou me referindo à cena das pessoas divididas em dois barcos, cada grupo com um “brinquedinho interativo”. E para quem ainda não viu o filme, um conselho: vá assistir como se estivesse indo a uma palestra de três horas sobre marketing viral. É praticamente um MBA em Gotham City.

Afinal, precisamos aprender a ser menos Batman e mais Coringa. Enquanto o primeiro gasta fortunas em carros, motos e roupas, o segundo só precisa de um kit de maquiagem vagabundo para conseguir o mesmo destaque.

Fazendo um paralelo com a publicidade, você pode ganhar um leão de ouro em Cannes com uma mega produção – como o filme da Sony Bravia, com os coelhinhos de massinha colorida – ou com um roteiro simples e original – como o comercial dos quatro palhaços ouvindo música dentro do carro, para o Festival de Filme Independente de Buenos Aires.

E para nós é muito mais fácil – e bem mais divertido – seguir o mesmo atalho trilhado por nossos ‘hermanos’ do que tentar atingir o patamar de verba dos americanos.

Um comentário:

  1. Parabéns pela ótima percepção e síntese do filme.

    "precisamos aprender a ser menos Batman e mais Coringa" foi ótimo.

    Dez, parabéns.

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