quarta-feira, 2 de junho de 2010

A Crise da Blogosfera


No começo, na época dos protótipos do que conhecemos hoje como blogs, na época do zip.net, bligs, e o ridículo fotolog (que acho que só pega AQUI no Brasil até hoje) quem dominava praticamente toda a “blogosfera” – acho que esse termo nem existia ainda – eram os blogs miguxos, os execráveis diarinhos que utilizavam da ferramenta blog como um conteúdo adicional ao seu trabalho na mídia impressa ou na TV. Alguns exemplos disso são alguns blogs de gente como o Marcelo Tas e o Danilo Gentili do CQC, o Milton Neves e o Mauro Betting da Band e alguns outros.

A concorrência acontecia sim, mas cada qual na sua área de abrangência, ou seja, blogueiros medíocres disputando audiência com blogueiros medíocres e jornalistas “profissionais” e “consagrados” brigando entre si. Depois disso, quando teve o boom dos blogs, em que realmente TODO MUNDO, tinha um blog a coisa acirrou de vez. E ai muita gente começou a ter pretensões maiores do que apenas se divertir e falar do que gostava, o negocio agora é chamar mais e mais leitores e tornar-se “relevante” para um mundinho virtual onde ninguém realmente conhece ninguém e nada importa.

E a grande imprensa jurássica e tacanha, depois de taaaaaaanto tempo finalmente viu que a internet poderia atrair potenciais leitores de volta aos veículos impressos por meio dos blogs. O resultado disso é que até gente como o Neto, ex-jogador do Corinthians e “comentarista” boçal da Band hoje tem um blog. Todo mundo da mídia que é “alguém” ou que acha que é tem um blog e é ai que a verdadeira competição começou de vez.

Porque teve uma época ai, se não sei se vocês lembram, mas diversos jornalistas ociosos e enciumados (redundância) que ficaram raivosos por alguns blogueiros de quinta estarem conquistando um espaço maior entre a audiência, que trocou a forma impressa pela tela do pc. E começaram uma serie de ataques vindo de todos os lugares pra tentar queimar de vez o filme dos blogueiros, numa atitude que passa longe – e muito – da tal “ética jornalística” simplesmente por colocarem suas vaidades e ciumeiras acima do foco da questão.


Agora uma coisa que eu queria muito falar aqui: eu acho que o papel principal que a blogosfera deveria desempenhar, ao contrario do que é a quase totalidade retardada de hoje, era de ser uma fonte alternativa de conteúdo, propostas e idéias. E que tudo isso fosse de sentido oposto justamente à grande mídia “formadora de opinião”, suas manipulações e seus dogmas pré-estabelecidos. Deveriam ter mais blogs de posicionamento critico, contestador e contemporâneo, sem o ranço tradicional da imprensa tacanha, conservadora e defasada. Mas o que acontece é o contrario: todos começam a escrever na internet e que depois de um tempinho reúnem um séqüito de bajuladores passa a se dedicar paraa adentrar algum grande portal ou ser agregado por qualquer Yahoo ou uma MTV da vida.

E todo mundo sabe que a renovação não vem daqueles que se vendem barato e baixam a cabeça na primeira oportunidade, mas sim da contestação e da derrubada de valores antiquados e que não funcionam mais. Tipo, não só aqui no Brasil, mas em vários outros paises no mundo, em outras épocas tiveram movimentos alternativos ao que rolava na mídia até então. Bons exemplos disso são revistas como a MAD americana e a ZAP! Comics que cada qual em sua devida época batiam forte no tal “american way” e na hipocrisia que sempre rolou forte nos Estados Unidos. Essa galera utilizou os quadrinhos como veículo de critica contra as autoridades e o governo, detonando-os e menosprezando totalmente a cultura de massa e os costumes de sua sociedade decadente de forma acida, visceral e o mais importante: confrontadora.

Diversos autores de fora das grandes panelas como Kurtzman, Crumb, Clowes e outros hoje são devidamente respeitados e reconhecidos pela sua obra, não por se submeterem como insetos e cordeiros vendidos, chatinhos e burocráticos, mas por destoarem o que geralmente é o estado natural de uma sociedade bovina e conformista. Esses caras foram responsáveis pro toda uma renovação cultural e devido à influencia que exerceram em outros artistas, os quadrinhos – e mesmo a mídia em geral – chegaram a novos horizontes, novas soluções que talvez nunca tivessem sido encontradas se esses “malucos” não tivessem chegado e metido o dedo na ferida.

Aqui no Brasil, principalmente nas décadas de 70 e 80 tivemos alguns projetos do que rolou nos states. O problema é que esses suplementos literários, revistas alternativas e jornais “irreverentes” (o Pasquim, Chiclete com Banana, Circo, etc.) que expressavam opiniões e idéias opostas aos governos vigentes, sempre estavam nas mãos duvidosas dos, digamos assim, “intelectuais” brasileiros, ou seja, a elite branca enfadonha e entediada, logo, não tinha como algo assim ter 100% de credibilidade. Alem do fato de que todas essas manifestações culturais / intelectuais ficavam restritas ao seu próprio meio e de nunca ter sido voltada a grande massa, pois parecia que não queriam de propósito se fazer entender. Resumindo: no final das contas, tudo não passava de uma brincadeira de universitários playboys metidos à revolucionários (praga essa que existe até hoje) que se contentavam em ter uma meia dúzia de puxa. E isso é a verdade absoluta, pois como todos sabem, nenhuma dessas iniciativas foi pra frente, tampouco duraram muito tempo. Mas a “reputação”, essa perdura até hoje.

Independente de quem estava por trás desses “movimentos” e suas reais intenções, fora a sua comprovada incompetência e falta de compromisso, essas manifestações foram todas barradas por três fatores determinantes:

1 - falta de um real investimento ($$$);

2 - segregação territorial ou o popular bairrismo: geralmente o acesso a essas coisas ficavam restritas às suas cidades no máximo;

3- conteúdo altamente intelectualoide, o que num país como o nosso, acaba restringindo em muito o alcance desse tipo de material, já que o povinho daqui no máximo consegue assimilar o “humor” da Praça é Nossa e do Zorra Total. Casseta e Planeta já é “cabeça” demais, para você sentir o drama.

E o que tudo isso tem a ver com os blogs? Muito simples: hoje os blogs poderiam muito bem desempenhar o papel dessas iniciativas frustradas do passado. E muito melhor na verdade, já que o alcance agora é mundial: qualquer um pode acessar conhecer, te ler em qualquer lugar do mundo. Mas não

O interesse maior, SEMPRE, será o sobre a vida privada. O post mais visitado é aquele pessoal, onde o cara aproveita pra se promover, soltar lorotas da sua vida pessoal pra despertar interesse nos que acessam sua página.

O blog é o ÚNICO meio de expressão realmente livre, mas é desperdiçado com gente sem importância escrevendo besteira 100% descartável. Hoje em dia só tem espaço aberrações como a tal da “discussão saudável” que é a filosofia que mais se vê na internet.

É muito simples: o que você DEVE fazer é dizer JUSTAMENTE aquilo que esperam que diga se quiser agradar todo mundo e falar o contrário se quiser arrumar encrenca e ser odiado por todo mundo. Quer um exemplo? Se numa suposição, eu disser que acho uma pena que tenham acabado com a ditadura no Brasil, todos os livres pensadores, o pessoal dos direitos humanos, enfim, essa galerinha do politicamente correto vão querer me arrancar os olhos da cara literalmente. No entanto, eles próprios, encarnam uma infame ditadura e adoram esse tipo de coisa, esse “poder” de amordaçar as vozes dissonantes do discurso padrão.

Não que apenas protestar per si geralmente resulte em alguma coisa, mas ninguém o faz de forma alguma.

E para fechar de forma definitiva este assunto da blogosfera adesista, uma malhada no principal culpado disso tudo: o leitor. Sim, isso mesmo. Afinal, somos TODOS NÓS que alimentamos isso tudo toda. Somos nós que compramos jornais, revistas e acessamos os sites e blogs. Dessa forma, somos nós que acabamos decidindo quem são os “melhores”, os mais “relevantes”, etc. Talvez se todos tivéssemos mais coerência, maturidade, critério e bom-senso saberíamos separar o que presta do lixo e mandá-los ao seu devido esquecimento. Não se contentar em apenas ler textos rasteiros de uma linha ou duas e distinguir um blog de conteúdo decente de um empulhador.

O que deveria acontecer na verdade é o fim dessa historia de os “melhores”, os “tops”, pois esse é um conceito defasado. Com a atual dispersão / descentralização quase total da informação e a imprensa tradicional aderindo cada vez mais ao esquema dos blogs esses julgamentos não se sustentam. Afinal, o que pode ser bom pra um blogueiro pode ser uma droga para um jornalista. Não dá mais pra conceber nos dias de hoje que haja uma minoria privilegiada que possa ostentar o titulo de os “campeões”, os “melhores do todos”, isso é uma besteira. É bem provável que daqui a alguns anos os blogs ocupem de vez o lugar dos veículos de imprensa atuais, mas tomara que daqui até lá esses caras deixem de repetir sempre a mesma conversa fiada, se tornem mais autênticos e íntegros e que mudem suas cabeças tacanhas aprendendo a aceitar o direito de cada um ter a sua própria opinião, por mais diferente que seja e que deixem suas presunções e o oportunismo inescrupuloso um pouco de lado.

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